Sobre florescer

Gosto de observar o suave florescer das orquídeas.

A orquídea tem, no geral, um ciclo anual de florescimento (nem sempre todo ano).

Mas quem a vê em um estágio sem flores, pensa: nossa que planta sem graça, essas folhas aí sempre iguais…

Observando isso, gosto de pensar que toda pessoa que passa por nossa vida vê um recorte do que somos, porque cada fase de nossa vida é um tijolinho na nossa construção.

Assim também são as orquídeas, elas tem um look muito igual o ano inteiro e de repente surge ali uma haste meio desajeitada, meio desconectada, meio grande demais para sua pequena base e lá aparecem as delicadas flores da orquídea.

Mas elas não aparecem assim todas de uma vez, se abrem ritmadamente uma após a outra, em seu próprio tempo.

A maioria das pessoas que passa pela orquídea vê só folhas, mas quem cuida delas vê folhas, e depois haste, e depois os botões, e as flores e, por fim, uma planta desgastada após a inflorescência que começa seu ciclo de novo.

Quem vê apenas as folhas, vê um retrato daquele momento, um tijolinho, quem vê apenas as flores, vê outro retrato e outro tijolinho.

E na vida é assim, sempre que cruzamos o caminho com alguém, em algum momento, em determinado dia fica um retrato de nós, um tijolinho da construção do nosso eu.

Não necessariamente tivemos sempre aquelas convicções, aqueles sonhos, aquele cabelo, aquele emprego. Só sabe de nós quem viu o ciclo todo e só poucos têm essa oportunidade e paciência.